quinta-feira, 30 de abril de 2015

A MÃO DE DEUS PARA OS MOTOCICLISTAS


Quando o controle eletrônico de estabilidade (ESC, na sigla em inglês) apareceu pela primeira vez, nos anos 90, equipando carros de luxo, seu efeito foi descrito como "a mão de Deus" alcançando o motorista e corrigindo seus erros.

Mas nenhum veículo é menos tolerante a erros do que uma motocicleta, com sua propensão a derrapar e, assim, expor seu piloto a todo tipo de perigos.

E se, assim como fizeram com o ESC, engenheiros desenvolvessem um sistema que ficaria nos bastidores, sem ser notado, esperando para agir com sua "mão de Deus" eletrônica apenas no instante em que a moto está prestes a cair?

O resultado seria algo bastante parecido com o Sistema de Controle de Estabilidade de Motocicletas (MSC, na sigla em inglês), desenvolvido pela alemã Bosch. Ele está acoplado na supermoto Ducati 1299 Panigale e na KTM 1190 Adventure, enquanto a BMW Motorrad, subsidiária de motos do Grupo BMW, emprega alguns de seus componentes em todos os modelos da marca.

"O objetivo da criação da Bosch não é fazer um computador dirigir a moto automaticamente, mas sim servir como uma espécie de rede de segurança invisível aos motociclistas", explica Frank Sgambati, diretor de marketing e inovação da divisão americana da Bosch.

"O grande atrativo da motocicleta é a adrenalina", reconhece. "Não queremos interferir ou mudar essa experiência. Queremos que o MSC apareça apenas em situações de pânico."

Os freios ABS, que ajudam a reduzir dramaticamente o risco de uma batida, já fazem parte do mundo das motos há tempos. Mas seu uso esteve limitado a modelos caros – e ainda assim como um opcional de custo extra.

O Insurance Institute for Highway Safety (IIHS), organização sem fins lucrativos financiada pela indústria americana de seguros, relata que motos equipadas com freios ABS têm 37% menos chances de se envolverem em acidentes que resultem na morte do piloto.

As motos equipadas com o sistema também apresentam 22% menos pedidos de indenização por danos em batidas, segundo o IIHS.

"Em uma emergência, o piloto tem frações de segundo para decidir entre apertar fundo os freios, o que trava as rodas e provoca uma batida, ou não frear e se arriscar a entrar com tudo em algum obstáculo", explica Russ Rader, porta-voz do IIHS. "É nessa hora que o ABS entra em ação, ajudando o motorista a frear bruscamente sem o medo de travar as rodas".

Sensor de inclinação

Mas assim como nos carros, para que os freios ABS ajam sozinhos, eles ainda precisam ser aprimorados. O sistema MSC da Bosch trabalha em cima dos equipamentos de ABS já existentes, acrescentando um sensor ao módulo ABS para que o computador reconheça a inclinação da moto e saiba se ela está sendo empurrada para cima a partir da aceleração ou para baixo com a freada.

Em um carro, uma roda travada deixa marcas no asfalto e aumenta a distância até que o carro pare completamente. Já nas motos, uma roda dianteira travada é praticamente sinônimo de queda, enquanto travar a roda traseira pode ser menos pior, desde que o piloto não solte o freio traseiro enquanto a moto está deslizando lateralmente.

Isso é um convite para que o pneu traseiro recobre tração quando a moto não está apontada para a frente, e arremesse o piloto para longe enquanto a moto tenta violentamente se realinhar com a direção do trajeto.

Para minimizar esses perigos, o módulo ABS da Bosch reúne informações dos sensores de velocidade das rodas e os utiliza para controlar o fluxo de pressão hidráulica da bomba para o freio – aplicando e liberando a pressão, conforme o necessário para evitar um travamento. Um sensor de inclinação também determina quanto de tração está disponível para a moto em um determinado momento.

Barateamento no futuro

Tudo isso pode soar como uma ótima notícia para a causa da segurança das motos, mas seria apenas se o MSC estivesse disponível em modelos mais baratos para acomodar pilotos menos experientes – os que mais se beneficiariam desse sistema.

Sgambati nota que mais modelos com preço acessível trarão a tecnologia dentro dos próximos anos. Segundo ele, assim como o custo do ABS caiu paulatinamente, o mesmo ocorrerá com o MSC.

Um bom exemplo disso é o fato de o atual sistema MSC ser o primeiro desenvolvido especificamente para motos, em vez de ser adaptado da tecnologia automotiva. Como o investimento inicial já foi feito, os custos devem cair.

Mas será que o controle de estabilidade vai realmente emplacar nas motos mais básicas, escolhidas pelos pilotos estreantes? "Esperamos que sim, e logo", diz Sgambati.

Quanto mais cedo, melhor. Afinal, todos os pilotos se beneficiam de demonstrações ocasionais de intervenção divina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário